18 de novembro de 2011

O dom feminino

As mulheres aprendem a observar nos outros o que, mais tarde, chamam intuição. É uma qualidade quase exclusiva do foro feminino e é por isso que os homens que também a possuem chegam mais longe. A essa capacidade de antecipar a realidade, de ler no olhar a subtileza, de interpretar a vontade e o medo nas batidas cardíacas, os homens chamam-lhe instinto, as mulheres, intuição.
É a intuição que diz a uma mulher que está a gerar uma criança, mesmo antes de fazer o teste de gravidez, que indica os caminhos do coração quando a dúvida se instala, que lhe diz quando deve lutar por um homem ou desistir dele. É uma espécie de mapa interior, de guia invisível, de alarme adiantado à inevitabilidade da vida. Estes sinais, dados pelo acaso de um centésimo de segundo de silêncio ou na troca furtiva de um olhar, precisam de ser interpretados, e a partir deles, sentir o que pode acontecer.
Nunca acreditei em bruxas nem adivinhos, prefiro lê-los nas histórias do que vê-los ao vivo a deitar cartas ou a atirar búzios ao mar, pois acredito que o futuro é bom, exatamente pelo desconhecido que guarda, mas, quanto à intuição, já acertei demasiadas vezes nas previsões que fiz para podes desconsiderá-la. 
Vejo a intuição como um atributo da alma, um dom guardado entre o coração e a cabeça, para lá da inteligência e da razão. Uma espécie de voz acima da realidade, um balão a gás quente que consegue ver mais longe do que o olhar alcança, um código de barras que se descodifica a ele próprio, um telescópio da anatomia dos sentimentos, porque tem muito mais a ver com o que se sente do que com o que se pensa, com o que se imagina do que com o que se vê, com o que se teme do que com o que se deseja, sentindo como certo aquilo que o entendimento ainda não captou.
Prefiro ter o dom da intuição a esperar placidamente pelo desconhecido, mesmo quando este traz todos os sonhos numa bandeja.  Margarida Rebelo Pinto

Uma palavra: Maravilhosa!

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